Saulo Adami 

(por Giselle Zambiazzi)

 

 

Saulo Adami (nascido Luiz Saulo Adami – Brusque, 21 de fevereiro de 1965), filho dos comerciantes Luís Avaní e Tereza Conte Adami, apaixonou-se pela leitura desde o primeiro instante em que se percebeu capaz de decodificar a escrita.

 

O resultado não poderia ser outro: queria porque queria ser escritor quando crescesse. Depois de atuar por 20 anos na imprensa escrita de Santa Catarina, hoje Adami pode desfrutar do seu sonho plenamente. Kuranda, o 50º. livro de sua carreira, não é apenas mais um título da editora Luiz Saulo Adami, com o selo DOM. É a consolidação de uma nova fase na carreira do escritor que, mesmo estando longe dos grandes centros e apostando em uma atividade pouco valorizada no Brasil, consegue lançar entre oito e 17 livros por ano com a sua marca.

 

O primeiro livro de sua autoria foi publicado quando ele ainda estava com 17 anos. É uma coletânea de poesias, contos e crônicas intitulada Cicatrizes (1982). Paralelamente aos livros e jornais, o autor também escreveu peças de teatro, algumas premiadas em festivais de diversas partes do Brasil.

 

 

Em 1978 Adami começou a juntar ao prazer de escrever sua segunda grande paixão: séries de cinema e TV, mais especificamente uma: O Planeta dos Macacos. Suas pesquisas constantes levaram à criação de dois livros: O único humano bom é aquele que está morto! (Editora Aleph/S&T Produções, 1996) e Diários de Hollywood: Um Brasileiro no Planeta dos Macacos (S&T Editores, 2008).

 

 

O primeiro rende reconhecimentos ao autor até hoje. Ele ainda recebe convites para palestras e viagens para falar sobre a série e o livro, que já é considerado uma relíquia entre os cinéfilos. O segundo conta a história da relação de Adami com O Planeta dos Macacos, como surgiu essa paixão, todas as viagens (inclusive aos Estados Unidos), entrevistas e contatos com atores, diretores, produtores, maquiadores, toda a busca por informações, documentos, imagens, objetos e todo o processo de concepção de O único humano bom é aquele que está morto!

 

 

Em 2004, depois de passar pela última redação de jornal impresso da sua carreira, Adami criou a empresa Luiz Saulo Adami, que até maio de 2011 lançou 75 livros de 29 autores diferentes nas áreas de literatura, história, direito, administração, biografia e cinema, com o selo editorial S&T Editores. Em 2009, em co-autoria com Tina Rosa, lançou seu quinto livro sobre a história de Brusque: Histórias e Lendas da Cidade Schneeburg foi premiado pela Academia Catarinense de Letras como o Melhor Livro de História do Ano.

 

Em junho de 2011, criou o selo editorial DOM, e em dezembro se casou com a psicóloga Jeanine Wandratsch Adami, com quem escreveu a biografia Doutor Nica (DOM, 2012), que tem como personagem o médico João Antônio Schaefer, ainda em atividade aos 94 anos de vida!

 

O romance Kuranda é a cristalização de toda essa caminhada. Um livro inspirado, literalmente. Surgiu de um flash. Uma imagem instantânea. E hoje é a consagração de um projeto que nasceu há quatro décadas, em uma pequena cidade catarinense, quando o filho dos comerciantes Tereza Conte e Luís Avaní Adami aprendeu a ler...

 

 

Saulo Adami: “Sou o que

sempre quis ser: escritor”

 

Você sempre quis ser escritor?

Sempre. Na escola, quando me perguntavam o que eu queria ser quando crescesse, eu sempre respondia: “Quero ser escritor”. Eu queria ser um escritor com livros publicados sobre os mais diferentes assuntos, um escritor que recebesse cartas de leitores e colaboradores espalhados pelo mundo afora, que um dia teria uma estante abarrotada de títulos que escreveu, alguns deles publicados em outros idiomas.

 

E quando foi que esta história começou?         

Esta história teve início em 1973, quando eu estava com meus oito anos de idade e começava a frequentar a segunda série da escola primária. Na pequena estante de livros que eu tinha no meu quarto, algumas obras referenciais da literatura dividiam espaços com histórias em quadrinhos – afinal, eu era normal –, e dicionários de idiomas, sendo que os mais atraentes para mim eram os de línguas espanhola e inglesa, além de revistas sobre cinema e seriados de televisão. Esta paixão pelas histórias me trouxe para os dias de hoje como alguém interessado em contribuir para transformar o quintal de nossa casa em outro planeta, em um planeta que vivia na cabeça de um menino que não se preocupava apenas em brincar; era um menino curioso, acima de tudo curioso, sempre interessado em abrir um livro para ler e para ver se descobria como tinha sido escrito e impresso.

 

Mas, do que você sobreviveu, antes de ser o escritor que sempre quis ser?

Eu fiz de tudo um pouco, desde serviços de copydesk até revisão, redação e edição de jornais. Fiz coberturas de eleições antes e depois da criação do voto eletrônico, catástrofes como as enchentes de 1984 e 2008, atendendo a todas as editorias, desde polícia até lazer e cultura. Comecei carreira profissional no jornalismo em 1985, colaborando com o semanário Tribuna de Brusque. Fui colunista, repórter e editor, e o meu trabalho chamou a atenção de outros jornais de maior abrangência, como os diários O Estado (Florianópolis), Jornal de Santa Catarina (Blumenau) e A Notícia (Joinville), onde fui repórter da sucursal de Brusque, nas décadas de 1980 e 1990. Encerrei minha carreira como jornalista em 2001, depois de passar um tempo nos Estados Unidos. Eu voltei para Brusque e fiz a transição do semanário O Município para o diário Município Dia-a-Dia. Criei o título do jornal, montei a equipe de redação e fui seu editor. Depois de 20 anos de trabalho na área, passei a me dedicar exclusivamente à produção de livros.

 

Você já era fã de ficção científica quando começou a pesquisar O Planeta dos Macacos? Quais eram as suas histórias favoritas?

Sempre gostei de ficção científica, li alguns livros de Isaac Asimov, Edgar Rice Burroughs e Edgar Wallace, assisti séries de TV Além da Imaginação, O Túnel do Tempo e Terra de Gigantes, mas nunca colecionei itens de outro tema a não ser do Planeta dos Macacos. A coleção com os mais de 1.800 itens que tenho hoje foi consequência. Meu interesse era saber como tudo era feito: o cenário da cidade dos macacos, a maquiagem dos macacos e dos mutantes, o roteiro... Sempre fui curioso, e comecei a escrever meus contos e livros ainda criança. Eu lembro de escrever novas aventuras para personagens do cinema e da TV desde os 9 anos idade.

 

Quando você foi aos Estados Unidos pela primeira vez?

Em 1988, como convidado da Starcon, megaconvenção de cinema e televisão, oportunidade que devo ao meu amigo Jeff Krueger, de Anaheim, Califórnia. Na Starcon 97, Jeff coletou autógrafos dos atores em um exemplar do meu livro O único humano bom é aquele que está morto! (Editora Aleph/S&T Prtoduções, 1996), despertando a curiosidade dos organizadores do evento que me convidaram. Foi a realização de um sonho estar frente a frente com astros, estrelas e técnicos que fizeram a minha série favorita. Toda esta história está no livro Diários de Hollywood: Um Brasileiro no Planeta dos Macacos (S&T Editores, 2008), resultado de minhas anotações de viagens. Bilíngue (português/inglês), novidade para fãs e pesquisadores, reúne fotografias e histórias exclusivas. Também foi impresso com recursos próprios.

 

Como nasce um escritor?

Da observação, da persistência e da fé. Eu sempre digo que tudo dá um livro. Escrever dá trabalho, mas é um exercício de solidariedade. Através do livro, compartilhamos ideias, aspirações e conhecimento, e por isso quem escreve nunca está sozinho, e quem lê, também não está sozinho.

 

Como é a sua rotina como escritor?

Eu escrevo todos os dias, por horas. Não escrevo um livro de cada vez, nem gosto de ficar muito tempo com um mesmo tema, não importa o gênero que escreva. Em 2010, trabalhei em seis livros, simultaneamente, e não é raro acontecer lançamentos de mais de um título diferente no mesmo mês. Quando termino meu trabalho, e entrego o livro aos leitores, eu me sinto premiado porque me realizo na minha profissão. Ser escritor é uma felicidade rara.

 

Quando você criou sua editora?

Em 2003, quando assinei o primeiro contrato para pesquisar, redigir e editar um livro com a história de uma cidade: Vidal Ramos, no Alto Vale do Itajaí. Paisagens da memória: A Criação do Município de Vidal Ramos foi lançado em dezembro de 2004. Eu estava desempregado havia nove meses, e tentava aliar a minha capacidade de trabalho à minha velocidade de produção de textos – habilidade adquirida como repórter, editor e assessor de imprensa – e à realização de um sonho de criança, que era viver do ofício de escrever e publicar livros. Deste esforço, nasceu a empresa Luiz Saulo Adami, com o selo editorial S&T Editores. Pela primeira vez municípios como Massaranduba, Vidal Ramos, Imbuia, Ilhota e Aurora tiveram sua história resgatada em livro. Ela surgiu como uma empresa para a produção de meus próprios livros, mas com a procura de outras pessoas pelos serviços, decidi abrir espaços para a publicação de livros de outros autores.

 

A série de cinco livros sobre Brusque é a sua maior realização, como autor?

É uma delas. Cada livro tem sua importância e razão de existir. Todo livro merece ser publicado e lido. A série sobre Brusque é uma das campeãs de venda. São cinco obras (Brusque: Cidade Schneeburg, 2005; Brusque Era Maior: Viajantes do Tempo, 2006; Brusque Vai à Guerra: Novas Visões da História, 2007; Brusque Operária: Comércio e Indústria, 2008; e Histórias e Lendas da Cidade Schneeburg, 2009), seis mil exemplares e mais de duas mil páginas de textos e fotografias em cinco anos.

 

A imprensa catarinense divulgou que você escreveu um livro em 23 dias. Foi isso mesmo?

Foi o livro Arthur Schlösser e a Criação dos Jogos Abertos de Santa Catarina (S&T Editores, 2010). De viagem marcada para Alto Paraíso de Goiás, contratei uma entrevistadora para me substituir durante minha ausência: Giselle Zambiazzi veio de São Paulo para entrevistar 12 pessoas. Ela fez tudo em nove dias, eu fiz a redação do livro também em nove dias. Depois que ele deu entrada na gráfica, ficou pronto em cinco dias. Foi o mais rápido que produzi depois de Walter Orthmann: 70 Anos de Trabalho na RenauxView (S&T Editores, 2008), produzido em 45 dias, e com uma agravante: Orthmann foi entrevistado sem saber do projeto do livro, ele só descobriu a surpresa quando abriu um pacote e descobriu que o presente, ao invés de ser uma placa de homenagem, era um livro contando a sua história. Esta imagem eu vou guardar para sempre na memória. Assim como Walter Orthmann também jamais se esquecerá daquele presente.